domingo, 29 de novembro de 2009

Sabedoria Zen

Uma xícara de Chá

Nan-In, um mestre japonês durante a era Meiji (1868-1912), recebeu um professor de universidade que veio lhe inquirir sobre Zen. Este iniciou um longo discurso intelectual sobre suas dúvidas.

Nan-In, enquanto isso, serviu o chá. Ele encheu completamente a xícara de seu visitante, e continuou a enchê-la, derramando chá pela borda. 


O professor, vendo o excesso se derramando, não pode mais se conter e disse:

"Está muito cheio. Não cabe mais chá!"

"Como esta xícara," Nan-in disse, "você está cheio de suas próprias opiniões e especulações. Como posso eu lhe demonstrar o Zen sem você primeiro esvaziar sua xícara?"



A Ordem Natural
Um homem muito rico pediu a um mestre zen um texto que o fizesse sempre lembrar o quanto era feliz com a sua família.

O mestre zen pegou um pergaminho e, com uma linda caligrafia, escreveu:

- O pai morre. O filho morre. O neto morre.

- Como? - disse, furioso, o homem rico. - Eu lhe pedi alguma coisa que me inspirasse, um ensinamento que fosse sempre contemplado com respeito pelas minhas próximas gerações, e o senhor me dá algo tão depressivo e deprimente como estas palavras?

- O senhor me pediu algo que sempre lhe fizesse lembrar a felicidade de viver junto à sua família. Se o seu filho morrer antes, todos serão devastados pela dor. Se o seu neto morrer, será uma experiência insuportável.                 


"Entretanto, se sua família for desaparecendo na ordem em que coloquei no papel, isso trata-se do curso natural da vida. Assim, embora todos passem por momentos de dor, as gerações continuarão, e seu legado demorará muito tempo."


Cada Um com seu Destino


Um samurai, conhecido por todos pela sua nobreza e honestidade, veio visitar um monge Zen em busca de conselhos. Entretanto, assim que entrou no templo onde o mestre rezava, sentiu-se inferior, e concluiu que, apesar de toda a sua vida lutando por justiça e paz, não tinha sequer chegado perto ao estado de graça do homem que tinha à sua frente.

- Por que estou me sentindo tão inferior? - perguntou, assim que o monge acabou de rezar. - Já enfrentei a morte muitas vezes, defendi os mais fracos, sei que não tenho nada do que me envergonhar. Entretanto, ao vê-lo meditando, senti que minha vida não tinha a menor importância.

- Espere. Assim que eu tiver atendido todos que me procurarem hoje, eu lhe darei a resposta.

Durante o dia inteiro o samurai ficou sentado no jardim do templo, olhando as pessoas entrarem e saírem em busca de conselhos. Viu como o monge atendia a todos com a mesma paciência e o mesmo sorriso luminoso em seu rosto. Mas o seu estado de ânimo ficava cada vez pior, pois tinha nascido para agir, não para esperar.

De noite, quando todos já haviam partido, ele insistiu:

- Agora o senhor pode me ensinar?

O mestre pediu que entrasse, e conduziu-o até o seu quarto. A lua cheia brilhava no céu, e todo o ambiente inspirava uma profunda tranqüilidade.




- Está vendo esta lua, como é linda? Ela vai cruzar todo o firmamento, e amanhã o sol tornará de novo a brilhar. Só que a luz do sol é muito mais forte, e consegue mostrar os detalhes da paisagem que temos à nossa frente: arvores, montanhas, nuvens. Tenho contemplado os dois durante anos, e nunca escutei a lua dizendo: por que não tenho o mesmo brilho do sol? Será que sou inferior a ele?

- Claro que não - respondeu o samurai. - Lua e sol são coisas diferentes, e cada um tem sua própria beleza. Não podemos comparar os dois.

- Então, você sabe a resposta. Somos duas pessoas diferentes, cada qual lutando à sua maneira por aquilo que acredita, e fazendo o possível para tornar este mundo melhor; o resto são apenas aparências.


Sem Trabalho, Sem Comida

HYAKUJO, o mestre Zen chinês, costumava trabalhar com seus discípulos mesmo na idade de 80 anos, aparando o jardim, limpando o chão, e podando as árvores. Os discípulos sentiram pena em ver o velho mestre trabalhando tão duramente, mas eles sabiam que ele não iria escutar seus apelos para que parasse. Então eles resolveram esconder suas ferramentas.           


 
Naquele dia o mestre não comeu. No dia seguinte também, e no outro.

"Ele deve estar irritado por termos escondido suas ferramentas," os discípulos acharam. "É melhor nós as colocarmos de volta no lugar."

No dia em que eles fizeram isso, o mestre trabalhou e comeu exatamente como antes. À noite ele os instruiu, simplesmente:

"Sem trabalho, sem comida."



Os Portais do Paraíso


Um orgulhoso guerreiro chamado Nobushige foi até Hakuin, e perguntou-lhe: "Se existe um paraíso e um inferno, onde estão?"



"Quem é você?" perguntou Hakuin.

"Eu sou um samurai!" o guerreiro exclamou.

"Você, um guerreiro!" riu-se Hakuin. "Que espécie de governante teria tal guarda? Sua aparência é a de um mendigo!".

Nobushige ficou tão raivoso que começou a desembainhar sua espada, mas Hakuin continuou:

"Então você tem uma espada! Sua arma provavelmente está tão cega que não cortará minha cabeça..."

O samurai retirou a espada num gesto rápido e avançou pronto para matar, gritando de ódio. Neste momento Hakuin gritou:

"Acabaram de se abrir os Portais do Inferno!"

Ao ouvir estas palavras, e percebendo a sabedoria do mestre, o samurai embainhou sua espada e fez-lhe uma profunda reverência.

"Acabaram de se abrir os Portais do Paraíso," disse suavemente Hakuin.


Certo e Errado

Quando Bankei realizava seus retiro semanais de meditação, discípulos de muitas partes do Japão vinham participar. Durante um destes Sesshins um discípulo foi pego roubando. O caso foi reportado a Bankei com a solicitação para que o culpado fosse expulso.

Bankei ignorou o caso.


Mais tarde o discípulo foi surpreendido na mesma falta, e novamente Bankei desdenhou o acontecimento. Isto aborreceu os outros pupilos, que enviaram uma petição pedindo a dispensa do ladrão, e declarando que se tal não fosse feito eles todos iriam deixar o retiro.

Quando Bankei leu a petição ele reuniu todos diante de si.

"Vocês são sábios," ele disse aos discípulos. "Vocês sabem o que é certo e o que é errado. Vocês podem ir para qualquer outro lugar para estudar e praticar, mas este pobre irmão não percebe nem mesmo o que significa o certo e o errado. Quem irá ensiná-lo se eu não o fizer? Eu vou mantê-lo aqui mesmo se o resto de vocês partirem."


Uma torrente de lágrimas foram derramadas pelo monge que roubara. Todo seu desejo de roubar tinha se esvaecido.



Fonte: http://www.oraculoching.com/pt/ching.html

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Gilberto Gil, Uma Entrevista

Enfim... Dessa vez, Gilberto Gil não falou sobre “o prisma transitório da protomatéria nasciva”. Nem sobre a “prosódia popular do cancioneiro”. Certamente, aproximou-o da objetividade a passagem pelo Ministério da Cultura. Ele foi titular da pasta durante seis anos, no governo Lula, mas jura não sentir saudade da experiência. Foi, assegura, “de bom tamanho”.



Aproveitando a deixa do dia da Consciência Negra, comemorado na última sexta-feira, Gil fala (objetivamente!) sobre as questões raciais no Brasil. Caminhando nos rumos da onda verde, declara aberto apoio a Marina Silva, explica as tão controvertidas palavras do amigo Caetano Veloso sobre o presidente, e faz suas algumas palavras dele: "Já estou na campanha dela. Não preciso nem explicar o que ela significa. É como Caetano disse: política e socialmente, Marina é um Lula, é um Obama".



Nesta excelente entrevista, concedida por Gilberto Gil ao jornalista Ivan Marsiglia, do Estadão, o compositor, que está em turnê na Europa, ainda diz que o Brasil é hoje um país menos preconceituoso e elogia FHC e Lula. Conversa também sobre direitos autorais, o enfrentamento entre as novas religiões protestantes e o candomblé e o pouco caso do governo para com a Cultura e o Meio Ambiente. Imperdivelmente objetiva!




Sexta-feira foi o Dia Nacional da Consciência Negra. Celebrar esse tipo de data faz diferença?

Há uma percepção na humanidade inteira de que essas coisas, de modo geral, adiantam. Na década de 80, fui fazer um show em Washington e me telefonaram dizendo que Stevie Wonder queria me ver. Saímos para jantar juntos e perguntei o que ele tinha ido fazer na capital americana. "Estou batalhando pelo Martin Luther King Day", ele respondeu, referindo-se à implantação de um feriado devotado à causa negra. O dia de homenagem a Martin Luther foi de fato oficializado (em 1986). E, anos depois, temos a eleição do primeiro presidente negro americano. Você pode me dizer que não teve nada a ver, mas no final das contas é tijolo sobre tijolo, pedra sobre pedra, que essas coisas vão sendo construídas.



Muito de sua obra musical vem da mistura de costumes, ritmos ou signos de que o Brasil é feito. Compartimentalizar o debate político entre "brancos" e "negros" pode vir a restringir as trocas culturais?

Essa não é a única compartimentalização que se nota dentro das totalidades. Compartimentalizações existem porque existem desigualdades, que precisam ser atacadas. E diferenças, que precisam ser respeitadas. Unidade não é uma abstração, é feita de partes que têm vida própria. Elas devem respeitar o sentido das totalidades, dos interesses comuns, então a política é feita disso. Se não existissem interesses particulares, não existiria política.



Como o senhor se posiciona a respeito da política de cotas para negros nas universidades?

Eis uma questão política, o ideal contemporâneo de fazer reparações, de refazer o equilíbrio que foi rompido em momentos específicos da história - como a escravidão. São técnicas de reparação. Sou a favor e tenho reiterado isso. Cotas já foram experimentadas em outros países, com êxitos e fracassos, e podem ser aplicadas no Brasil, parcialmente, periodicamente, até o momento em que funcionem ou deixem de funcionar. Experimenta, não custa nada.







Mas críticos dizem que essas ações podem reforçar a velha ideia de que a humanidade se divide em raças.

A questão não é racial, é social. São grupos humanos historicamente discriminados por alguma razão. No caso é "raça", mas há tantas outras! As políticas compensatórias da pobreza, tipo Bolsa-Família, existem por isso, por causa de desigualdades e diferenças que precisam ser atacadas por uma visão mais aprofundada de humanismo, de republicanismo, de compromisso com a democracia, com a ideia do oferecimento de oportunidades mais ou menos iguais para todos. O argumento de que essas políticas podem intensificar processos racialistas... Sim, mas aí cabe a vigilância, cuidar para que o efeito colateral do remédio não seja mais forte do que seu efeito curativo.



Em entrevista de 2005, o senhor falou de sua passagem pela Gessy Lever, na década de 60, aos 23 anos. Disse que era uma espécie de "experimento racial" da empresa. De lá para cá, a inserção do negro na sociedade brasileira mudou?

Era um experimento que tinha esses componentes sociais e raciais. Eles queriam dar chance a setores das classes médias brasileiras que emergiam, para que viessem a ocupar postos de destaque, de comando, na empresa. A inserção do negro é um processo um tanto ambíguo, mas a situação tem melhorado, no estilo dois passos para frente, um para trás: se você somar, há um avanço, um deslocamento mínimo positivo. Você vê que a presença do preconceito, que era uma coisa muito forte e determinante das relações sociais no Brasil, tem se atenuado, diminuído. Estava lendo ontem mesmo sobre o ministro Joaquim Barbosa. Ele é um exemplo, é o negro que chegou ao Supremo pela primeira vez.



O Brasil é um país preconceituoso?

Não creio que seja mais do que o conjunto da sociedade humana. Está na média. De certa forma há até mais cordialidade, compreensão, interracialidade e intersociabilidade na sociedade brasileira do que em outras.





Mas a cultura afro-brasileira é reconhecida como deveria no País? Grupos evangélicos de Salvador, por exemplo, estão tentando substituir o termo "acarajé" por "bolinho de Cristo" ou "acarajé de Jesus"...

Isso é, de novo, questão política. Quarenta anos atrás era a Igreja católica que, de certa forma, tentava se opor à proliferação e disseminação dos cultos de origem africana. E se associava ao Estado nessa tentativa de interdição do candomblé e da umbanda. Depois, a igreja cedeu espaço, assim como o Estado: em 1972, na Bahia, caiu a lei que interditava os candomblés e os obrigava a tirar licença municipal para funcionar. E passaram, como qualquer outra religião, a ter garantido o seu direito de liberdade de culto. Agora os evangélicos, na sua emergência e luta por espaço político, se opõem aos católicos, aos cultos afro-brasileiros, etc. São grupos com novos apetites políticos.



Apetites que representam alguma ameaça?

Ameaças há. No candomblé da minha mulher em Salvador houve um dia em que ela teve que confrontar um grupo de evangélicos que foi lá para a porta do terreiro e se pôs a gritar. Coisas assim acontecem. Agora, na perspectiva do deslocamento histórico, o candomblé já foi absorvido pela sociedade brasileira. E mais: está além-fronteiras, com presença forte no Uruguai, na Argentina, no Paraguai e outros países da América do Sul, tem milhões de adeptos, é respeitado. Fica restrito ao frisson político, à luta encetada por esses segmentos religiosos emergentes.







A umbanda e o candomblé perderam terreno nas favelas, onde proliferam igrejas evangélicas...

É que o garimpo dos evangélicos se faz nas classes populares, onde há uma forte presença do negro e das religiões afro-brasileiras. É por isso que atacam especificamente esses setores e recrutam contingentes para as suas igrejas.



Nos cinco anos e meio em que o senhor esteve no Ministério da Cultura, não foram poucos os que lhe perguntaram se sentia saudade da música. Tem saudade da política?

Saudade, propriamente, não. Tenho lembranças boas e um sentimento de que foi um serviço prestado com muita dedicação e alguma relevância do ponto de vista da percepção da sociedade. Foi interessante servir a um presidente que marca um momento histórico da vida republicana brasileira, que é Lula. Foi um período da minha vida pensado para ser curto e que durou quase seis anos. Está de bom tamanho (risos).







Na época, o senhor declarou que sua frustração foi não ter conseguido elevar a fatia do orçamento federal para o MinC de 0,5% para 1%. Com toda essa pujança da economia brasileira hoje, o País não aprendeu a valorizar sua cultura?

Ainda não. No sentido de alçá-la a um patamar de instituição estratégica, prioritária, com quadros, com orçamento e atenção governamental, ainda não. É preciso ir além: pensar a cultura como elemento fundamental para o desenvolvimento, para a economia e para a cidadania. Cultura já é hoje um setor importante nos PIBs de vários países. No caso do próprio Brasil, entre 5% e 7% vêm do setor. E isso vai crescer com a migração da economia do hardware para o software, dos setores pesados para os setores leves. É preciso, portanto, prestar atenção nessa tendência. Nos EUA, a maior exportação já não é de armamento, mas de produtos culturais: filmes, jogos eletrônicos, música. O Brasil se ressente de não ter uma língua de ponta para lastrear suas investidas internacionais. Mas vai melhorando diante do enfraquecimento da hegemonia dos produtos culturais de língua inglesa no mundo. Estou vendo aqui na capa da The Economist, o Cristo decolando. E também no filme 2012, sobre o fim do mundo, o Cristo surge como ícone de civilização, tanto para o bem quanto para o mal. O Brasil está chamando a atenção do mundo.



Falando em cinema, o filme "Lula, o Filho do Brasil" será lançado com ingressos populares e todo um esquema de divulgação em massa, mas críticos têm apontado sua vocação como peça promocional...

Mas é promocional de quem? O filme foi feito por quem? Algum partido político ou algum ministério? É um filme que resolveram fazer sobre Lula. É a cultura que está pegando o bonde da popularidade dele, não o contrário. Oxente, estão fazendo um blockbuster com um tema popular! Agora mesmo foi lançado um filme chamado Besouro, também desenhado para ser um estouro do de bilheteria, com boa realização técnica. Ainda não o vi, mas até canto uma canção nele. Besouro é outro exemplo disso, um ídolo popular, negro, mitológico capoeirista que existiu na Bahia e é transformado em super-herói. Essa é uma tendência e o Brasil terá interesse de ocupar os espaços do grande cinema popular de massas, na linha de Os Dois Filhos de Francisco. Também no cenário musical não é mais a classe média que domina a produção. São as favelas de São Paulo e do Rio, as periferias de Salvador e Recife, que estão criando novos gêneros, ditando novas modas.


No dia de seu desligamento do ministério, o senhor disse que cederia a canção "Refazenda" para divulgar "o avanço da agricultura familiar com os biocombustíveis". Com a euforia do pré-sal, pouco se fala do assunto. Isso o preocupa?

Me preocupa sim. É aquela mania: acharam uma pepita de ouro, então não precisa mais trabalhar, plantar algodão, cebola. Vai viver da pepita de ouro. Não é assim. Nós estamos com a Convenção do Clima de Copenhague, que vai tratar do aquecimento global, batendo à porta. O petróleo, os combustíveis fósseis, são datados na história, ou seja, não são inesgotáveis. Está lá a luta de Obama, dos setores avançados do empresariado americano e da academia, em prol da prevalência das fontes alternativas. Não podemos nos descuidar disso. A instituição do meio ambiente no Brasil precisa ser fortalecida. É a mesma questão da cultura: o ministério do Meio Ambiente ainda não está à altura, não tem orçamento, quadros, prestígio ou espaço no gabinete da Presidência, do jeito que deveria ter. Lula não dá a importância que deveria dar ao Ministério do Meio Ambiente.







O senhor diria que o pré-sal é uma bênção ou uma maldição?

Nem bênção nem maldição. É um recurso adicional num setor que ainda significa riqueza. Mas é só isso. O Brasil vai ter uma folga em combustível fóssil - e isso ajuda o País a pesquisar novas alternativas energéticas. Vai inclusive poder investir mais em pesquisa.

A senadora Marina Silva deixou o PT para ingressar em seu partido, o PV, e lançar-se candidata à Presidência da República. O senhor vai mesmo apoiá-la?

Já estou na campanha dela. Não preciso nem explicar o que ela significa. É como Caetano disse: politicamente e socialmente, Marina é um Lula, é um Obama. É uma mestiça brasileira que emerge, é mulher também, preparada, sensível, culta no sentido da vida e das coisas que circulam na periferia da política, é imersa nisso tudo desde a adolescência. Gosto muito dela. Nós trabalhávamos no mesmo prédio em Brasília, convivemos muito, temos afinidades. Confio nela.



Politicamente, ela significa o novo?

Sem dúvida. É um deslocamento no sentido do avanço. Assim como Fernando Henrique foi um belo presidente para o País e deixou espaço para que Lula o sucedesse de forma ainda mais interessante, uma presidência com Marina Silva seria um avanço ainda maior para o País. Do ponto de vista simbólico e, estou seguro, também do ponto político e pragmático. Pois ela seria hábil o suficiente para se cercar do que pode haver de melhor hoje no País, estabelecer diálogos com áreas importantes do pensamento brasileiro e do empreendedorismo.


E o que o senhor achou do complemento da frase de Caetano: "Marina não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro"?

Caetano disse claramente nas explicações que deu depois da entrevista, que foi apenas descritivo. Quis dizer uma coisa que é pública no Brasil: os linguistas aplaudem e o próprio Lula gosta do fato de ser visto como uma pessoa iletrada que chegou lá. Só que Caetano usou os termos mais chulos (risos) para se referir a uma coisa que todo o mundo admite, e da qual todos nos orgulhamos, o fato de um homem não letrado ter chegado à Presidência com tanto êxito.



Os discursos que fez e as conversas que teve em Brasília danificaram a sua voz. Como ela está?

Está indo bem. Voltei a cantar mais do que falar e tenho mantido cuidados fonoterápicos permanentes. Faço exercícios de voz diários para fortalecimento do aparelho vocal. Então minha voz tem estado bem melhor do que à época em que estava no ministério.


E que tal está o novo CD e DVD, o acústico "Bandadois"?

Havia uma demanda por parte de muita gente, fãs e amigos, para que eu me dedicasse a esse modelo simples, suave, do projeto acústico. Desde o disco Gil Luminoso (1999), que foi um projeto de voz e violão, tenho me dedicado a incursões por esse formato. Juntei-me a meu filho Bem, no Bandadois, e agora veio o Jaques Morelenbaum. Então, é um "bandatrês". Um modelo que me dá tranquilidade, é mais manso, o uso da voz é mais moderado e não tenho que brigar com a intensidade timbrística das percussões ou instrumentos elétricos. Propicia uma expressividade mais sob meu próprio domínio e batuta. Mas também gosto das performances "stoneanas", tão típicas de Londres (risos).



Hoje o senhor revê Londres com alegria ou melancolia?

A lembrança daqui é boa. Ainda hoje saí à rua com a Gilda (Mattoso, assessora do cantor), vendo as pessoas, os prédios, as ruas, a arquitetura, ônibus específicos... Londres é um lugar diferente, tem sua marca própria. Dizem que a Inglaterra é a China do Ocidente.


Na entrevista que deu ao "Aliás" quatro anos atrás, o senhor disse que seus filhos não iriam viver dos seus direitos autorais. Vimos, de fato, a autoria ser colocada em questão no mundo da internet. Qual é sua visão hoje?

De fato, há um desmantelamento, uma desconstrução do modelo clássico de autoria, que estava em vigência até agora. E muita coisa vira escombros, ruína, com prejuízos a grupos de interessados e titulares de direitos que viviam disso. Mas há um segundo aspecto importante no princípio do direito autoral, que é o acesso à obra, e que vem emergindo. Uma extensão imensa da acessibilidade e da própria autoralidade: falo das novas mini e microautoralidades que são proporcionadas pelo mundo digital. Todas as formas artísticas vão passar a ter uma dimensão mais pública mesmo. E para o atendimento dessa dimensão será preciso redesenhar todo um sistema legal e de direitos.






O que a sua parabólica anda captando em termos de cenário político para o Brasil?

Os fatos e os gestos internos, do próprio Brasil e do mundo, falam de forma mais eloquente do que eu poderia falar. Hoje o País é reconhecido e Lula é uma liderança mundial. Viajo pelo mundo todo e fico vendo: os repórteres só me perguntam disso, o Brasil, o Brasil. Eu fico pensando: "O que vou dizer a eles?" Não tenho nada a dizer. Eu sou o Brasil (risos).



Fonte: http://www.nublog.com.br/index.php

sábado, 21 de novembro de 2009

Eu Sou Tu , Rumi

Rumi Oh Rumi
Tu és tão Belo
Tu és tão puro
É o sol da poesia no céu do meu Ser
É luz..
Verdade...
Infinito...
Deus..
Eu sou Tu
Tu...Eu...Um.

(Queila)




Eu Sou Tu


Eu sou as partículas de poeira na luz do Sol
Eu sou o sol redondo
Para as partículas de poeira
Eu digo "fica"
Para o sol
"Segue tua marcha"
Eu sou a neblina da manhã
E a respiração da noite
Eu sou o vento na copa das árvores
E as ondas nos rochedos
Mastro...Timão
Timoneiro e quilha
Eu sou a fundação dos recifes de corais
Eu sou uma árvore
Com um papagaio pousado no seu ramo
Silêncio
Pensamento
E voz
O som musical
Vindo de uma flauta
Uma lasca de pedra
Um tilintar no metal
Ambas as velas
E a mariposa louca em torno delas
Rosa
e o passarinho
Perdidos na fragância
Eu sou todos os Seres
A galáxia girante
A inteligência evolucionária
A ascenção
e a queda
O que é
e o que não é
Tu que conheces Jalalludin
Tu que és um em todos
Digas quem sou eu
Diga Eu sou Tu

(Jalalludin Rumi)
(Tradução: Queila )


Mundos Infinitos
(Rumi)


Consciência Negra

Zumbi
Pelo ventre negro de Palmares
Respirou o seu primeiro ar,
Livre e leve em guerras.
Caminhou o seu primeiro passo,
Solto e tranquilo em batalhas.
Falou a sua primeira palavra
E navegou sobre ela
Até a hora da sua morte:
Liberdade


Jean Claudio



sábado, 14 de novembro de 2009

O Paraíso Perdido e depois Achado




Sempre que nos referimos a jardim nossa tradição ocidental judaico-cristã nos remete, inconscientemente ,à idéia de paraíso. Não diz a Bíblia que Adão e Eva viviam no paraíso, num jardim florido e magnífico?

A palavra jardim é de origem hebraica (Gan eden) unindo 'gan' que significa proteger defender à palavra 'éden' cuja significação é deleite, encantamento, satisfação.









Quando imaginamos um jardim pessoal, vamos criar uma paisagem idealizada que nos comova e atinja todos os nossos sentidos.
Segundo Burle Marx ”Jardim é sinônimo de adequação ao meio ecológico para atender às exigências naturais das civilizações”.


Assim como em todas as manifestações artísticas existe uma influência da cultura de seu tempo, o estilo do jardim também recebe essa influência ao longo dos séculos. Cada época, cada cultura, cada povo tem o jardim que os representa.
Os jardins mais antigos de que se tem notícia foram os egípcios – há cerca de 4000 anos.
Eram influenciados pela crença deste povo em astrologia, ocupavam grandes espaços às margens do rio Nilo e tinham traçados geométricos. As plantas usadas eram, em sua maioria, úteis e frutíferas. Algumas tinham um significado simbólico, como o lótus e o papiro.








Os jardins egípcios influenciaram os gregos que, no entanto, não usavam formas geométricas devido à topografia da região.






Entre as Sete maravilhas do Mundo Antigo estão os jardins suspensos da Babilônia.

Palmeiras e roseiras eram cultivadas sobre o teto das casas, em terraços que possuíam vários patamares e um belo sistema de irrigação. A vegetação passa a ser útil pelo valor ornamental, sofrendo influência da civilização persa.





Os romanos também se esmeraram em seus jardins e usavam mosaicos, fontes e estátuas.







Com o advento da Idade Média o jardim passou a ser confinado nos mosteiros e castelos. Cultivava-se hortaliças, plantas medicinais, frutíferas e flores de corte para uso nos altares.







Constrastando com a sobriedade e linhas retas do jardim europeu da Idade Média, a China e o Japão criaram um estilo peculiar, recriando a natureza pura, usando plantas, areia, água, pedras para imitá-la. É um estilo de fundo espiritual, convite à meditação e à transcendência.



Com o fim da Idade Média surge o Renascimento , trazendo novas formas para todas as manifestações artísticas. O jardim também sofre essa influência: torna-se suntuoso, com plantas esculpidas em forma de esculturas. Ele vai assumir características próprias em cada país europeu da época.





Sucedendo ao estilo renascentista, o mundo recebe o Romantismo. ele traz para o jardim a busca pela reprodução da natureza: árvores, riachos, rochedos, ruínas, tudo de forma a reproduzir o ambiente natural.






Hoje, o jardim incorpora os estilos do passado com duas tendências que se opõem: a forma geométrica e o naturalismo.







Qualquer que seja o estilo escolhido, o importante é que seu jardim seja seu ”paraíso”. O lugar que represente para você um presente para os sentidos.

Meu paraíso...




Texto: Regina Motta
http://www.paisagismodigital.com.br/







domingo, 8 de novembro de 2009

O Nosso Pão de Cada Dia

Ninguém sabe ainda se a gripe suína vai se tornar uma pandemia mundial, mas está ficando cada vez mais claro de onde ela veio: muito provavelmente de uma gigantesca fazenda industrial de criação de suínos mantida por uma corporação multinacional americana em Veracruz, México.



Essas fazendas industriais são repulsivas e perigosas e se multiplicam rapidamente. Milhares de porcos são brutalmente comprimidos para dentro de celeiros imundos e recebem um jato com um coquetel de drogas, pondo em risco sanitário mais do que simplesmente nossa alimentação. Esses animais e suas lagoas de estrume criam as condições ideais para gerar novos e perigosos vírus como o da gripe suína. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) precisam investigar e criar mecanismos de controle para essas fazendas a fim de proteger a saúde do mundo.




Por dentro das fazendas industriais




A União Européia já reconhece as provas científicas de que animais de produção são capazes de sentir emoções, desde prazer até sofrimento.



Ainda assim, fazendeiros industriais continuam a aprisionar ou acorrentar milhões de animais em péssimas condições, tratando-os como máquinas de linha de produção.






Os fazendeiros orgânicos criam seus animais de acordo com as “cinco liberdades”, uma lista, com base científica, de princípios para animais. Ela foi estabelecida pelo Conselho para o Bem-Estar dos Animais de Produção do Reino Unido (UK Farm Animal Welfare Council), segundo a qual os animais devem estar:



1. Livres de fome e sede

2. Livres de desconforto

3. Livres de dor, ferimentos e doenças

4. Livres para expressar seu comportamento natural

5. Livres de medo e angústia



Os animais nas fazendas industriais não estão em conformidade com nenhum desses itens. Seu sofrimento incessante é ingrediente de toda carne e laticínios produzidos nas fazendas industriais.





Como as fazendas industriais produzem ovos?

Produção intensiva de ovos, na Colômbia

Três quartos de todas as galinhas poedeiras são confinados em gaiolas, junto com até outras 90.000 aves. Uma galinha de fazenda industrial pode ser uma das dez aves confinadas em uma gaiola mínima. Ela nunca poderá abrir suas asas. Nunca ficará ao ar livre, ou andará ou bicará o solo. A galinha não poderá pôr seus ovos em um ninho.




Um terço de seu bico é cortado para que não bique as outras galinhas amontoadas à sua volta. A falta de movimento tornará seus ossos frágeis e quebradiços.



E quanto ao bacon?

Uma porca criada em uma fazenda industrial é contida durante toda sua vida. Aprisionada em um compartimento ínfimo, não consegue nem se movimentar. Algumas vezes, pode também estar presa por uma corrente curta.



Seus ossos ficam fracos e seus músculos, desgastados. E ela ainda sofre com ferimentos e cortes dolorosos, além de problemas cardíacos. A má qualidade do ar provoca infecções pulmonares e outros problemas respiratórios.



Em muitos países, os porcos de engorda são criados em ambientes internos, em baias superlotadas, imundas, com piso de concreto ou de tábuas, geralmente com pouca luz natural. Seus excrementos são lançados ao ambiente, causando poluição do ar e das águas.







Impedidos de se comportarem naturalmente, os porcos terminam freqüentemente mordendo os rabos e mastigando as orelhas uns dos outros.






Para evitar esse problema, os fazendeiros então cortam seus dentes e rabos. Essas mutilações, geralmente feitas sem anestesia, provocam longo e doloroso sofrimento.

Vejam esses vídeos que com humor, mostram a realidade nua e crua de nosso sistema de alimentação:



Creio que já passou da hora da gente prestar atenção de onde vem a nossa comida e tentar achar uma alternativa à produção industrial. A produção orgânica já é uma realidade sustentável e produtiva, por enquanto mais cara, mas se fizermos todas as contas de remédios, médico e doenças que temos com a produção tradicional, veremos que não é bem assim. Se houver uma mudança em massa, esse custo naturalmente será mais barato.

Faça a sua parte!


          http://www.wspabrasil.org/

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Transformação Global

 É possível transformar o mundo usando as mesmas soluções defasadas?

É possível transformar o mundo sem antes transformar nós mesmos?

Como transformar o mundo se o vemos separado de nós mesmos?

Tudo que existe é Consciência - o espírito da Vida, e esta criou a diversidade. É possível respeitar essa diversidade e viver em paz?

Este vídeo nos convida a refletir sobre o estado do mundo e nós mesmos, e para ouvir mais de perto o que está sendo solicitado de nós neste momento de transformação global sem precedentes.



http://www.globalonenessproject.org/videos/whatwoulditlooklike/


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