Ele era imbatível em sua energia, inteligência, vivência e tiradas filosóficas, que nos fazia admira-lo e muitas vezes nos levava à loucura. Era tudo em dose cavalar, literalmente também falando. Ele passava o dia todo pulando, dançando, cantando, gritando, suando, peidando, comendo e quando não aguentava, caía exausto no sofá e dormia com os anjos e demônios.
Em um mês de convivência ele me fez avivar minha vontade adormecida de adotar uma criança, para depois enterrá-la quase que permanentemente nas horas que nos fazia sair dos limites da nossa paciência. Passada a tormenta, as suas muitas qualidades sobressaía e fazia meu coração abrandar novamente e vinha as questões: "Como sou egoísta? sou penso em me doar se houver muitos e muitos porcentos de retorno positivo! Prá que procurar sarna prá coçar agora que estou nos 50 e meus filhos estão todos criados?"
Vaninho voltou prá roça, mas sinto no meu coração que essa novela ainda não acabou, no mínimo deixou uma pergunta no ar: "O que é adoção?"
Miguel, de 11 anos, foi adotado por uma família que o devolveu ao abrigo só porque ele não gostava de tomar banho. O bancário Olavo Costa Lima e sua mulher, Maria Teresa Palomini, queriam uma criança pequena, mas ficaram comovidos com a história. 'A qualquer briga ele pergunta se vamos devolvê-lo', diz a mãe
Para combater o preconceito, a Justiça do Rio tomou uma medida polêmica: desde junho, não é possível mais escolher cor, sexo nem idade. Além disso, uma devolução como a de Miguel significa a perda da carta de adoção. 'Meninas recém-nascidas e brancas sempre foram a preferência e tiravam a chance dos outros. Uma criança não é um objeto. A situação ideal seria a criança poder escolher, porque é ela que tem direito a uma família', diz o juiz da Primeira Vara de Infância e Juventude do Rio, Siro Darlan, autor da medida e mentor de uma campanha de incentivo à adoção em parceria com a Rede Globo. No Rio, até antes da medida, 14% dos pais adotivos queriam levar crianças com mais de 4 anos. Apenas 0,01% desejava uma negra.
Levantamento do Cecif em São Paulo mostra que existem 36 interessados em cada criança de 0 a 2 anos. Com mais de 10 anos, a proporção se inverte: são 66 crianças para cada pretendente a pai. Projeto de lei do deputado João Matos (PMDB-SC) fixa em um ano o tempo para todo o trâmite da adoção e cria um cadastro nacional de adotandos e adotados. 'Hoje isso tudo é descentralizado, as regras são decididas pelas próprias comarcas. É preciso agilizar o processo', diz o deputado, pai de um filho adotivo.
Um temor constante dos pais é o de a criança adotiva ter problemas de saúde. A cantora Elba Ramalho enfrentou a questão. Mãe de Luã, de 16 anos, resolveu adotar Maria Clara, há um ano. O empresário Gaetano Lopes, marido de Elba, tinha problemas de fertilidade. Na primeira vez que viram Maria Clara, ela tinha apenas 15 dias e estava subnutrida, cercada de tubos. Ninguém sabia se sobreviveria. 'Ficamos com medo e fomos procurar outras crianças, aqui no Rio, mas aquela menina nunca saiu da nossa cabeça', conta Elba. Um mês depois, adotaram a menina, apesar de pediatras consultados terem aconselhado o casal a 'pensar bem'. Hoje, a menina é tão saudável quanto qualquer outra. 'Eu amo Maria Clara exatamente como amo Luã', diz. A cantora gostou tanto da experiência que lançará em setembro a ONG Associação Beneficente Bate Coração, voltada para a conscientização em torno da adoção.
As principais etapas do processo de adoção:
1. O interessado em adotar deve ter mais de 18 anos e não ter nenhum antecedente criminal. O estado civil, a classe social ou a preferência sexual não têm peso no processo.
2. Depois de fazer a inscrição, o candidato passa por uma entrevista, faz uma dinâmica de grupo e recebe a visita do serviço social do juizado, que checará as condições da casa onde a criança ficará. Uma vez habilitado, recebe a carta de adoção, que em geral vale por um ano.
3. Localizada uma criança com um perfil compatível com o desejado, o candidato é contatado. Segue-se o chamado 'período de convivência', durante o qual o candidato faz visitas sucessivas à criança no abrigo e a leva para casa. Esse período dura cerca de um mês.
4. Com a aprovação do juizado, é emitida uma nova certidão de nascimento, em que os pais dão seu sobrenome ao filho e podem, inclusive, mudar o prenome da criança. Todo o processo leva, em média, seis meses, mas pode ser mais curto em caso de crianças maiores.
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