sexta-feira, 24 de julho de 2009

Sri Nisargadatta Maharaj

Já tinha ouvido falar nele e no seu livro famoso, mas nunca tive oportunidade e/ou curiosidade de conhecê-lo, até que o "acaso" me pôs frente a frente com esse sábio e aí foi um deslumbre total! Ele é uma mistura de Ramana+Krishnamurti+Ramesh tudo junto e algo mais. O ensinamento é o mesmo, mas ele destrincha miúdo por miúdo e isso me fez entender melhor as questões profundas do mistério que é a vida. Ainda continua um mistério, mas agora esvaziei um pouco mais minha mente e já consigo andar mais leve, sem parte da carga dos condicionamentos e conseguindo ver o sonho do mundo.




Quando perguntavam sobre a data de seu nascimento, o Mestre replicava brandamente que ele nunca nasceu!
As poucas informações existentes sobre ele foram coletadas com familiares e amigos e, muitas vezes, são incongruentes. Conta-se que ele nasceu na lua cheia de Março de 1897, que coincide com o festival Hanuman Jayanti, quando os hindus homenageiam Hanuman, o famoso deus-macaco do Ramayana. Por isso, o recém-nascido recebeu o nome de Maruti (outro nome de Hanuman).
O garoto cresceu quase sem instrução, numa família pobre e seu pai trabalhava como serviçal numa residência em Bombay. Mais tarde, a família se mudou para uma pequena fazenda num vilarejo próximo à floresta de Ratnagiri, Maharastra. Maruti auxiliava seu pai nos afazeres da fazenda e suas diversões eram tão simples como seu trabalho, mas ele foi contemplado com uma mente inquisitiva, que borbulhava com questões de todos os tipos.

Quando Maruti completou 18 anos, seu pai faleceu deixando a viúva e seus seis filhos. Isso obrigou Maruti a mudar-se para Bombay em busca de melhores rendimentos para ajudar sua família. Após trabalhar algum tempo como auxiliar em um escritório, ele conseguiu montar uma pequena loja onde vendia roupas para crianças, tabaco e cigarros artesanais. Dizem que esse negócio cresceu e proporcionou-lhe alguma estabilidade financeira. Nesse período ele se casou e teve um filho e três filhas.
Até a meia idade, Maruti viveu uma vida normal, como a de qualquer outro indiano. Um dia, um amigo apresentou-o ao mestre Sri Siddharameshwar Maharaj e este foi seu ponto de mutação. O Guru deu-lhe um mantra e algumas instruções sobre meditação. Logo no início de sua prática, Maruti começou a ter visões e chegando a entrar em transe algumas vezes. Alguma coisa explodiu dentro dele, dando à luz uma consciência cósmica e um sentido de vida eterna. A identidade de Maruti, o pequeno comerciante, se dissolveu e a personalidade iluminada de Sri Nisargadatta emergiu.






Após sua experiência de iluminação, Sri Nisargadatta Maharaj começou a viver uma vida dupla: ele continuava conduzindo seus negócios, mas não era mais o mercador preocupado com o lucro. Mais tarde, decidiu abandonar sua família e sua loja (como é costume na Índia) e viver como peregrino. Com os pés descalços, se encaminhou para os Himalaias onde planejava passar o resto de seus anos em busca da vida eterna. Mas logo retrocedeu e percebeu a futilidade dessa busca. A vida eterna não era algo para ser desejado. Ele já a possuía. Tendo ido além da idéia de "eu sou este corpo", ele penetrou num estado mental tão cheio de alegria, paz e glória, que qualquer coisa lhe parecia inútil, comparado a essa sensação.



Embora sem instrução, seus diálogos são iluminadores num grau extraordinário. Apesar de ter nascido e crescido na pobreza, ele era o mais rico dos homens, pois era dono de uma ilimitada abundância de conhecimento perene. Ele era caloroso e gentil, perspicaz e bem-humorado, absolutamente sem medos e totalmente verdadeiro, inspirando, guiando e dando suporte a todos que o procuravam.




Qualquer tentativa de escrever uma nota biográfica sobre tal homem é frívola e fútil, porque ele não é um homem com um passado ou um futuro; ele é o presente vivo - eterno e imutável. Ele é o Self que se tornou todas as coisas.
Seu principal livro é "I Am That", onde estão transcritas suas conversas com os seus discípulos. Sri Nisargadatta Maharaj faleceu em 1981 de câncer na garganta, provavelmente causado pelos cigarros que fumava. Quando perguntavam por que fumava, ele dizia que isso era parte do sonho, e neste, vinha de uma família com esses hábitos.






Sri Nisargadatta Maharaj possuia uma maneira lógica e perspicaz de apresentar os ensinamentos. Seu tom desafiador, seu pouco caso das tradições e crenças religiosas, e sua maneira profunda e radical de abordar os temas eram traços característicos de seus diálogos. Seu estilo de ensinamento era a discussão profunda – e muitas vezes acalorada – que servia como um espelho para que os visitantes vissem suas próprias ilusões claramente e compreendessem a verdade.

Para Nisargadatta Maharaj existia apenas dois caminhos: o caminho da fé absoluta na Verdade, agindo e vivendo em conformidade com ela, e o caminho de voltar-se completamente para o sentimento “eu sou” (semelhante à inquirição ensinada por Ramana Maharshi e seus discípulos). Maharaj também colocava bastante ênfase na compreensão da verdade. Abaixo vão alguns trechos retirados do I Am That, de minha livre tradução.




O mundo é somente um show, cheio de glitter e vazio. Ele é, e ao mesmo tempo não é. Ele está lá pelo tempo que eu queira vê-lo e tomar parte nele. Quando eu deixo de me importar, ele se dissolve. Ele não tem qualquer causa e não serve a
qualquer propósito. Ele só acontece quando estamos mentalmente-ausentes. Ele se parece exatamente com o que é, mas não há qualquer profundidade nele, qualquer
sentido. Somente o sobre-observador é real, chame-o Eu ou Atma. Para o Ser, o mundo não é mais que um show colorido, o qual ele curte “infinitamente” enquanto dure, e o esquece quando ele se vai. O que quer que aconteça no palco o faz encolher-se aterrorizado ou rolar no chão de rir, e ainda assim todo o tempo ele está atento de que tudo é apenas um show. Sem desejo ou medo, ele o aprecia tal qual ele se
apresenta.






Você me vê aparentemente funcionando. Na realidade, eu somente olho. O
que quer que seja feito, é feito no palco. Contentamento e tristeza, vida e morte, eles
todos são reais para o homem delimitado; para mim, eles estão todos no show, tão
irreais quanto ao show em si mesmo. Eu posso perceber o mundo como você, mas
você acredita estar nele, enquanto eu o vejo como uma gota iridescente na vasta
extensão da consciência.








Tudo o que vive, trabalha para perpetuar e expandir a consciência. Este é
todo o significado e propósito do mundo. Ë a verdadeira essência do Yoga - sempre
elevando o nível de consciência, descoberta de novas dimensões, com suas
propriedades, qualidades e poderes. Neste sentido, o universo inteiro se torna uma
escola de Yoga.









Você se imagina sendo e fazendo tudo idêntico. Não é assim. A mente e o
corpo movem-se e mudam e causam movimentos e mudanças em outras mentes e
outros corpos, e isso é chamado de fazer, de ação. Eu vejo que é da natureza da ação
criar outra ação, como fogo que continua queimando. Eu não ajo nem sou causa de
outros agirem; eu estou constantemente alerta do que acontece.
Nada é feito por mim, tudo acontece simplesmente. Eu não espero, eu não
planejo, eu simplesmente assisto os eventos acontecendo, sabendo-os irreais.
É como seu gravador. Ele grava, ele reproduz – tudo por si mesmo. Você
somente ouve. Similarmente, eu assisto a tudo que acontece, inclusive meu conversar
com você. Não sou eu quem conversa, as palavras aparecem em minha mente e então
eu as escuto sendo ditas.


Se quiser ler mais visite:
http://www.advaita.com.br/Nisargadatta/ensinamentosnisargadatta.htm

Biografia: retirada do livro "Eu sou aquilo"

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