domingo, 2 de novembro de 2008

O Suor da Poesia

Todo mundo diz
Que o sertão vai virar mar
Mas eu sempre achei



Que o sertão sempre foi mar


Mar de bode e seca
Mar de couro e homem
Mar de boi e cangaço
Mar de coronéis e bicho revoltado
Mar de vingança
Mar da peleja no repente
Mar de Patativa, Zé da Luz


Mar de Gonzaga, o Luiz


Mar mesmo de gente
Mar cantador de uma dor
Mar do amor
O mesmo do Cego Aderaldo
Mar do simples pitando a vida
Como a vida é
Mar, mar e mar
Mar do sol rachando o chão
Mar da água molhando a esperança
Mar do feijão, milho e melancia
Mar de Miguel, Severino, José, João
Mar de uma Gordurinha pedindo perdão
Desse pobre coitado, que não sabe fazer oração




Mar de pedra e mandacaru
Mar do cinza
Asa branca, gameleira, mulungu





Mar de Maria Bonita


Mar de crenças, crias,
Mar do luar, mar dos Quelés
Mar das madrinhas, padrinhos,

Cumades e cumpadres
Mar dos lobisomens

Mar dos Gracialianos, os dos ramos,
Dos umbus, maxixes, quiabos



Mar dos Arianos, aquele Suassuna,
Da Paraíba, Pernambuco
Mar, mar das suçuaranas,
Metendo trote no rebanho.
Mar das peixeiras, gatilhos, garrunchas...
Mar do couro grosso sensível,










Mar do padre Cícero,
Mar do Cícero da venda,
Mar do pecado,
Mar de Maria Peito de Aço
Mar de Maria carola
Mar, mar e mar...
Mar dos cordéis.

O sertão é um montão de mar,
É a cria do povo
É a onda do povo
É a crença do povo
É o lampião alumiando a noite
É o lampejo em galope

É o suor da poesia.
O sertão é o suor da poesia
O sertão é um montão de mar.


JeanClaudio
13/10/08

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