quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Carnaval na Bahia - parte II, A missão.

Eu nem estou lá esse ano, mas nada me deixa esquecer a Bahia, o carnaval, os 60 anos do trio elétrico, os 25 anos do axé e por aí vai. E nessa folia toda ,continua tudo como antes no quartel de Abrantes: discriminação, industrialização, contradição, cordão, povão, mas sobretudo celebração, por que não?
Portanto, vamo pular, vamo pular,  vamo pular...

Como diz o jornalista  ZédeJesusBarreto: "Na folia, tudo está explícito, nas fuças, caviar e crack, a servir. Paetês e bunda de fora. Heliporto próximo ao camarote e isopor imundo na cabeça, beijo na boca e bala perdida.
Senhor do Bonfim que nos cubra e nos proteja. Que os nossos orixás cuidem da alegria, não permitam o pior. Até a tarde de quarta-feira, quando tudo vira cinzas."

E que venha a diversidade ! (boa ou ruim...faz parte)


Os 60 anos do trio         



O Trio Elétrico de Dodô e Osmar foi a maior inovação do Carnaval da Bahia. Criado em 1950, o trio elétrico representa a consagração do carnaval de rua. A primeira apresentação foi feita em cima de um Ford 1929, apelidado de “fobica”, com guitarras elétricas e som amplificado por alto-falantes, às cinco da tarde do Domingo de carnaval. O desfile aconteceu no Centro da cidade arrastando uma verdadeira multidão.

25 Anos de Axé
A axé music, gênero musical que nasceu na Bahia, se solidificou no Brasil e conquistou o planeta, completa 25 anos de existência em 2010 e continua gerando polêmica. Resultado de uma rica fusão de ritmos (rock, forró, frevo e a inconfundivel batida afro), move apaixonados e revolta alguns que se dizem ‘amantes da boa música’.






Os mais apaixonados resumem dizendo aos quatro ventos que essa é uma expressão musical única, inconfundivel, que contagia e faz a multidão pular que nem pipoca. Os que odeiam o gênero argumentam: com sua massificação, mais acentuada a partir do boom dos anos 90, a axé music tornou-se um vilão ao suprimir outros tipos de expressão cultural.

Passada a febre inicial, o axé ainda reina, é inegável, mas os mais odiosos tendem a acalmar os ânimos e reconhecer: se a massificação prejudicou outras expressões culturais, a axé music serviu e serve, ao menos, para levar aos quatros cantos do mundo um pouco do que a Bahia é, e disseminar os chamados ritmos afrobaianos (distorcidos ou não, massificados ou não).



De Luiz Caldas a Ivete Sangalo, da Banda Mel a Jau Peri, a axé music passou por diferentes momentos, mas permanece sinônimo de festa e diversão. Então, polêmicas à parte, viva a axé music!



 
 
 
 
 
  Filhos de Gandhy

Com seus trajes brancos, os Filhos de Gandhy embelezam os caminhos por onde passam, formando um tapete branco de fé e tradição. O bloco, que já desfila na avenida há mais de 60 anos, tem uma história que começa em 1948, quando os estivadores eram tidos como privilegiados, devido às condições econômicas da época que lhes favorecia e ao fato de não terem patrões.

Nesse ano, foi fundado o bloco Comendo Coentro, no qual um caminhão seguia pelas ruas com vários instrumentos musicais acompanhado dos estivadores, trajados finamente com o que de mais elegante existia: roupas de linho importado, chapéus Panamá e sapatos Scamatchia.



Já em 1949, com a política de arrocho salarial, numa economia de pós-guerra, o governo federal interviu no sindicato dos estivadores, o que fez decair a renda dos sindicalizados. Com a crise financeira, o "Comendo Coentro" não pôde sair às ruas, então surgiu a ideia de levar um "cordão", ou bloco de carnaval, idealizado por Durval Marques da Silva, o "Vava Madeira", com o apoio dos demais estivadores.

Eles arrecadaram dinheiro e compraram lençóis para serem utilizados na confecção dos trajes, barris de mate e couro, com os quais construíram os tambores utilizados no acompanhamento do cortejo. Surgiu então o bloco Filhos de Gandhy, cujo nome foi sugerido por "Vava Madeira", inspirado na vida do líder pacifista Mohandas Karamchand Gandhy. No entanto, trocou-se a letra "i" por "y", para evitar possíveis represálias pelo uso do nome de uma importante figura do cenário mundial. E foi assim que surgiu o bloco que encanta os foliões em Salvador.

Olodum


Batida inconfundível e contagiante que há 30 anos arrasta uma verdadeira multidão pelos quatro cantos do mundo. A banda Olodum fascina pela musicalidade, beleza e energia. São 19 ao todo: 10 percussionistas, 03 cantores e 06 músicos de harmonia, que fazem o povo balançar com o samba-reggae - criado pelo maestro Neguinho do Samba.

Com todos esses anos de carreira e sucesso, o Olodum já esteve em 35 países do mundo e, por onde passa, levanta a bandeira da luta contra o preconceito e a discriminação racial. As parcerias com grandes astros da música, como Paul Simon, Michael Jackson, Jimmy Cliff e Ziggy Marley, renderam ao grupo admiradores que lotam shows e ensaios. Até hoje, nenhuma outra banda de percussão conseguiu reunir 750 mil pessoas no Central Park, ou ainda dois milhões de pessoas, como foi no carnaval de North Hill Gate, na Inglaterra.

O mais belo do belos - Ilê Aiyê

Quem já foi ao carnaval da Bahia conhece a música Mundo Negro, um dos hits mais tradicionais do Ilê Aiyê, lançado em 1975, na estreia do bloco. Com 35 anos de vida, o Ilê é o mais antigo bloco afro do Brasil.

Na luta para preservar a tradição africana no carnaval de Salvador, o bloco leva cultura e muita beleza para a avenida. Impossível não se emocionar quando ele passa!



"O mais belo dos belos", como é conhecido, tem um ritual diferente. Na ladeira do Curuzu, na Liberdade, seus associados se encontram com baianos e turistas e pedem permissão aos orixás para sair às ruas. Na folia de momo, sai no Pelô e no Campo Grande.





Apaches e Comanches

 Na folia deste ano, estará nas ruas outra vez o bloco de índios Apaches do Tororó – duas décadas depois, sair na avenida continua sendo uma verdadeira prova de resistência. Com o lema “O Apaches de volta. Apaches forte, você forte”, o bloco remete à tristeza do ano passado, por não ter conseguido sair.

Inspirado nas tribos indígenas dos filmes americanos o Apaches sai às ruas para denunciar a exploração histórica sofrida pelos povos negro e indígena.

Desde sua fundação, em 1968, o bloco impulsionou o surgimento de vários outros grupos do gênero, além de ter revelado compositores de sambas que ficaram na memória dos foliões, a exemplo de Nelson Rufino, Jair Lima, Paulinho Camafeu e outros do calão.

Em extinção

Pelo menos até 1983, mais de 20 blocos de índio existiram. Destes, só dois sobreviveram: além do Apaches, o Commanche do Pelô, que ainda mantém a média de cinco mil pessoas por dia de festa. Apesar da ajuda que recebem do estado por meio de editais, os blocos ainda consideram a quantia insuficiente. Vale a pena conferir! E, claro, torcer para que essa verdadeira relíquia não siga o mesmo caminho dos outros blocos de índios já extintos.

Sua Majestade, O Rei

Foi-se o tempo em que para ser o Rei Momo era preciso pesar mais de 130 kg. A majestade da folia baiana em 2010 é uma versão mais, digamos... Elegante. Ao menos assim se apresenta Pepeu Gomes, soteropolitano e integrante do grupo Novos Baianos. Pepeu pesa ‘apenas’ 90 quilos e promete inovar: vai entrar no circuito vestindo uma saia escocesa kilt.




O Rei Momo Pepeu Gomes abre oficialmente a festa, na quarta-feira (11/2), às 19h, no Campo Grande (circuito Osmar), quando recebe das mãos do prefeito de Salvador, João Henrique, as chaves da cidade. Também participarão da entrega simbólica o músico Armandinho e os filhos do saudoso Osmar. Logo depois começam os desfiles de blocos e entidades carnavalescas.

Na contramão do Garcia


Todos os anos, os foliões podem conferir o humor e a irreverência do desfile do Mudança do Garcia, bloco de crítica política e social formado por entidades sindicais, partidos políticos, sindicatos, representações dos movimentos sociais organizados, intelectuais, universitários e também foliões que gostam do grupo.

O Bloco Mudança do Garcia não poupa ninguém. O prefeito, o governador, o papa, George Bush, Barack Obama, Lula, a crise financeira mundial, o aquecimento global e a Federação Internacional de Futebol (Fifa).



Esses e muitos outros temas são alvo do humor ácido do bloco que já tem a tradição de não respeitar seu horário de entrar no circuito oficial do carnaval de Salvador, no Campo Grande. Confira a ousadia do bloco.

O Renascer das Cinzas

Depois de seis dias de muita festa, axé e diversão, o carnaval de Salvador sempre acaba com mais festa. O tradicional Arrastão de Carlinhos Brown acontece desde 1994 e celebra o encerramento do grande carnaval da cidade.




Neste ano, o compositor Carlinhos Brown pede a todos os foliões que se vistam de roupas na cor azul durante o arrastão de cinzas, na quarta-feira (17), como um pedido de boa sorte para a Seleção Brasileira na Copa do Mundo.








Enfim...Axé...Tororó...Borogodó...Olodum...Ilê...Pelô...Dodô e todos os yoyôs e Yayás.
Que venham os gritos e atritos do Carná .



Viva a Vida e todas as suas manifestações!




Texto: Queila Levinstone


Um comentário:

  1. Ola! Obrigado pelas palavras, hé realmente eu vejo essa forma e cores do Brasil com uma riquesa imensa. Sinto como se eu tivesse fazendo poésia. Há 5 mêses estou em Lisboa, e essa nova fase ta me dando um mundo de sencibilidade. Tou procurando Galeria para expor minhas obras. Depois envio convite para você, abraço.

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